quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A galinha ou o ovo?

Um dia acordei
e resolvi que a nova lei
era a de explicar o mundo
Esconder a adultice
e ter olhos de infância
- prima-irmã da caduquice -

Resolvi esquecer tudo
e aprender tudo de novo
Empaquei nessa pergunta:
A galinha ou o ovo?

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Azul

Para Bigode, Carlinhos e Winsthon

Estar azul
num jeito azul
num modo azul de tudo ver
Estar azul
é estar nu
daquilo que não é você
Azul, então,
deixou de ser
apenas cor

Pra ensinar
pra aprender
a conviver
e espalhar
o mais bonito e mútuo amor

Azul o som
consegue ouvir?
Estou azul
consegue ver?
Então, azul
vamos viver

Ser infante

Brincar de vida
de bola
ou de boneca
Soltar pipa
soltar beijos
correr à solta
num mundo que parece
muito maior do que é
Alheio à vontade louca
de ser maior que o mundo
Infância
idade onde a vaidade
é segredo a descobrir
Onde a sinceridade
é motivo de sorrir
Ser infante, na verdade
é ter a tranquila idade
Tudo pesa só metade
menos a felicidade

Todo mundo foi feliz

sábado, 26 de novembro de 2011

Ladrão de lua

Eu achava que um dia
que um dia eu poderia
arranjar uma maneira
de subir até o céu

Talvez quando eu crescesse
o céu me parecesse
um teto que se alcança
mas eu ainda era criança...

Só me restava esperar.

E toda noite eu dormia
A sonhar com o dia
com o dia de alcançar

- a lua -

E ela caberia no meu bolso
E na gaveta da escrivaninha
E eu roubaria a menina nua
E seria o único da minha rua
A ter uma lua só minha.

Ai, quando a gente é pequeno
tudo é menor ainda.

A música

A música é uma mão
que vive a me procurar
Às vezes, acha a cabeça
Às vezes, o coração
Às vezes, atrapalhada,
me toca onde não pode
E quando está com sono
acerta nenhum acorde
Porém, quando apaixonada
Desperta e cheia de calma
consegue, com todos os dedos,
agarrar a minha alma.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sobre Liberdade e Esperança

Liberdade é uma palavra
que voa da minha boca
Mas eu...
eu não tenho asas...
Então a vejo fugir
pela janela da casa
E finjo que ainda a tenho
presa nessa palavra

Esperança é uma criança
que esqueceu de crescer
É velha, mas não sabe
e nem precisa saber

Asa quebrada

Passarinho quebrou asa
e não pode mais voar
Passarinho, se quer casa
venha na minha morar

Passarinho canta tanto
noite e dia, sem parar
o seu canto é de tristeza
porque não pode voar

Passarinho, se alegre
Passarinho, chore não
se tua asa é quebrada
voa com o coração

Poema da melancorlia

Não sei que cor coloria
os dias da minha solidão
Mas sei que era melancolia
colorindo o coração
A cor eu não conhecia
Na verdade, não sei se cor
é o que eu procuraria
nessa dor que me doía
Existe cor para dor?

Mangavilha!

No pé do vizinho,
quando eu bem te vejo,
vem logo um desejo
de ir te buscar

É manga madura
de suco docinho
no pé se pendura
e vem me chamar

O muro, num pulo
eu venço feliz
não me alcança
nenhuma armadilha

Tenho, finalmente,
fiapo no dente
e bucho contente
ê, mangavilha!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Poema de bicho-grilo

Para Emanuel Badu, a criança mais adulta que eu conheço.

Da galinha você tem pena
Da vaca você se afasta
O porco, só se estiver louco
O peixe você diz: "deixe!"
Deixe o bicho no seu canto
Deixe o canto do bichano
Pai, mãe, filho, filha
Bicho também tem família
e muita vida, possas crer
aprenda que não precisa
matar ninguém pra viver.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Amor de menino

Amor de menino é o amor mais bonito
que o coração da gente já pôde sentir.

Amor que a gente cresce
e, sem notar, esquece
no vento do tempo.
Mas vive a querer,
querer encontrar,
amor como esse
a qualquer momento.

Amor de mãos dadas com a timidez
Quem foi que te fez?
Foi meu coração.

Amor de menino,
amor tranquilinho.
Te dou um beijinho,
mas só dessa vez.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Insônia

Sônia não sonha
Não sonha, porque não dorme
A vontade e o desejo vivem nela
e não a deixam dormir.

Se Sônia tentasse, cansaria
Se cansasse, dormiria
Mas Sônia não faz nada
Só vive a sonhar
Acordada.

Não tem acordo,
em Sônia tudo está acordado.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Não!

Quando o "não" vem antes de "posso"
Eu não gosto
Quando vem antes de "devo"
Não me atrevo
Quando vem antes de "gosto"
Eu não faço
Quando vem antes de "entendo"
Eu pergunto
Quando vem antes de "sei"
Eu duvido
Quando vem antes de de "escuto"
Eu grito
Quando vem antes de "falo"
Me calo

Quando vem só
Sem porquê, sem razão, sem explicação
Eu me irrito
Não gosto
Pergunto
Duvido
Grito
Não faço, porque não me atrevo
Me calo
Mas tenho vontade que seja de vidro e se quebre rapidinho.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Fora de questão

Flutuei
matei tempo
matei espaço
matei razão
Desacatei
A gravidade não me coube
não me cabe
Flutuei

Pé no chão
está fora de questão.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O primeiro beijo

O primeiro beijo
foi um lampejo
um susto, um espanto.

Na primeira boca
o desejo orgânico
o desejo humano

Um desejo insano
de ter para si
uma outra boca.